Porque Linux não é muito usado no desktop?

Se pesquisar por “Linux” em praticamente qualquer lugar, verá facilmente janelas com fundo preto do terminal e isso são divulgados geralmente por usuários!

Para começar mostrando que VOCÊ tem uma parcela de culpa também! (não precisa levar este post tão a sério rsrs)

Meu objetivo é mais refletir sobre o assunto que as vezes volta a tona, alguém comenta e especula sobre. Não sou ninguém para ditar regras para ninguém, mas tenho minhas opiniões.

Talvez todo blog de Linux ou de tecnologia já especulou sobre isso, bom, vou fazer o mesmo. Mas tentar ser mais sincero e de uma perspectiva de quem usa apenas Linux no desktop pessoal.

Só para esclarecer antes “Linux e Linux Desktop” são termos que vou usar para se referir a distribuições Linux, DE’s e todas comunidades que o cercam.

Começando pelo óbvio

Mais marketing, mais hardware com Linux pré instalado, mais influencers divulgando, notícias, grandes jogos AAA e app’s famosos, facilidades ootb, integração com features tendências (vide IA)…

Tudo isso já está meio óbvio que seriam os passos para aumentar a popularidade do desktop Linux, porém não são realidades no desktop Linux.

Bom, pra ser justo existe sim jogos AAA rodando, MAS aquele lançamento que você esperava, com muita sorte, vai rodar de forma não oficial ou se tiver mais sorte ainda, ser portado depois de um tempo. Além de muitos jogos populares que usam anti-cheat não serem compatíveis, além dos UWP. Os jogos via streaming poderiam suprir esta falta, porém não são serviços na realidade de muitos por vários motivos, ainda.

Temos sim vários hardware’s sendo vendidos com Linux, mas não temos a variedade e acessibilidade de vários destes modelos, pelo menos aqui no Brasil.

As redes sociais são um ponto importante e os “influencers” fazem parte delas. Poderiam ajudar na popularização, MAS (sempre tem uma mas*) tenho a impressão que poucos querem ou sabem como mostrar o Linux para as massas. Não estou dizendo que é uma tarefa fácil, inclusive os próprios usuários mostram que não sabem no geral, eu também não sei!

Projetos e empresas relacionados ao Linux não tem ou não podem usar seus recursos para campanhas publicitárias. Muitas vezes elas apenas não têm a grana ou pessoal para isso. Pensando bem, creio que ainda exista mais impedimentos, podem existir outros problemas ou conflitos internos nos projetos que impedem ações do tipo.

Outro ponto mais comum do que imaginava é o “meio social” das pessoas que podem levar uma pessoa a deixar o Linux. Exemplo: o coleguinha de escola de um adolescente que recém instalou Linux no seu PC, convida para jogar uma partida de PUBG, o adolescente faz o óbvio, vai até a Steam e instala o jogo, mas tem uma surpresa, o game não roda! A solução: é voltar a reinstalar o Windows para não perder a amizade.

Ou então um aluno de um curso de TI, é orientado a instalar um software para um trabalho em grupo, mas o mesmo não está na sua loja de app’s do seu sistema Linux, este que ainda está aprendendo, pois um primo instalou para ele afim de evitar pagar a licença do Windows. Como o prazo é curto e ele não tem tempo para seguir tutoriais na internet, resolve instalar o Windows novamente, nem que seja pirata!

Estes são só 2 casos mas existem milhares parecidos, que envolvem situações em lugares, escolas, trabalhos etc.

A resposta para pergunta inicial é basicamente isto.

Então o que podemos melhorar?

A não ser que você tenha MUITA grana para bancar o marketing de algum grande projeto, creio que temos que ser realista e ver o que está a “nosso alcance”.

Inclusive, defendo que doações de pessoas podem ajudar nesta questão, principalmente de projetos “chave” para o Linux. Ultimamente, faço doações sempre que posso para o projeto Flatpak, pois acredito que ajudando este projeto, estarei ajudando todas as distribuições Linux por ser uma software compatível com todas e também proporcionar distribuição de softwares para todas, além de ser adotado por várias distros por padrão.

Como tudo na vida pode ser aprimorado, o “Linux Desktop” ainda pode melhorar muito a experiência para o usuário final. Ainda existem coisas que as comunidades e desenvolvedores de app’s para o Linux podem fazer, pelo menos, “salvar” aqueles que se aventuram no Linux.

Antes de querer “conquistar” aqueles que parecem estar muito distante (e ao mesmo tempo perto) por conta dos problemas descritos acima (falo dos usuários comuns que são a grande parte no planeta, a massa*) poderíamos pelo menos conquistar aqueles que se aventuram, aqueles curiosos que chegam até instalar uma distro ou as vezes porque alguém instalou para eles.

Estes curiosos e não tão “leigos” assim (creio que alguém que consiga instalar uma distro não seja tão leigo assim) que geralmente, ou fazem duallboot, ou apenas voltam para o Windows. Poderiam ser “melhor tratados”.

Para isso vamos analisar alguns pontos que não vai exigir campanhas publicitárias nem grandes recursos a mais, ou seja, problemas mais “possíveis” de serem resolvidos (ou não).

Padronização na distribuição de app’s!

“Padronização” uma palavra que pode gerar calafrios para quem já conhece as comunidades Linux. Mas convenhamos, pelo menos exige menos recursos do que campanhas publicitárias!

Fora que, se pensar bem, a padronização não é algo inexistente na maioria das distros Linux. Podemos dizer que todos usam kernel Linux (com pequenas modificações ou não) todos usam mesa driver, Xorg (ainda em migração para Wayland de modo geral) DE’s (com ou sem modificações) init systemd, Pipewire, entre muitos outros aspectos do OS.

Então calma! Não precisa surtar por alguma padronização a mais!

Vamos a um ponto que desenvolvedores podem melhorar e assim trazer mais facilidade e mais segurança aos usuários. Falo de algo que não parece estar tão distante como marketing e vendas de hardware.

Os usuários, usam principalmente app’s para tarefas, não usa o OS em si, então vamos dar uma olhada nos app’s do mundo Linux:

Calibre

Um péssimo exemplo para um “simples” app de gerenciamento de e-book, infelizmente, ainda existe a cultura de procurar app’s pela internet a fora, principalmente de Windows users. Então imagine um “recém chegado” no mundo Linux se deparando com este procedimento para instalar um app?

Spotify

Para ser justo, parece que é algo apoiado por engenheiros no seu tempo livre, não tem mesma atenção do Windows e Mac como descrito. Mesmo assim parece que só existe terminal e Ubuntu/Debian para “Linux”.

Google Chrome

Não sou louco de dizer que o ideal seria suportar vários pacotes para várias distros. Pois tecnologia para isto já existe! Sabe Google?

VLC

Digo o mesmo para o VLC. Apesar de existir um Flatpak e ajuda do upstream para o mesmo no Flathub, não é listado aí.

Dropbox

Novamente, pacotes .deb/.rpm e procedimentos via CLI. O usuário que se vire com problemas de dependências e updates de chaves gpg depois..

Kdenlive

O Kdenlive tenta ser “democrático” mas ainda não chegou lá. Uma coisa que desconfio, é que app’s distribuídos modo “standalone” tipo Appimage, talvez tenham lugar para alguns casos. O usuário ao ver estes botões pode até entender que o “penguin” = Linux = sua distribuição, então imagine ele tentando instalar um PPA no Fedora? ou procurando o ícone do menu do appimage? ou tentando instalar o Flatpak estando no Ubuntu?

LibreOffice

Se é para ser “democrático” que aprenda com o LibreOffice! rsrs

GIMP

É o que chega mais próximo de uma experiência não traumatizante ao usuário iniciante no Linux, tendo 1 opção não tem erro, bem, ainda pode ter algum erro, mas pelo menos aí não acho que seria culpa do usuário nem do dev da aplicação. Mas “GIMP for Unix-like systems” wtf? (é o que imagino que um usuário novato diria!)

Photoshop Express

É disso que estou falando! Veja o exemplo do Photoshop Express, redirecionar para uma loja / plataforma onde terá um download mais seguro, uma prática que simplifica as coisas. Porém aqui é apenas para Google Play do Android / ChromeOS.

Slack

Slack com .rpm / .deb e o botão da Snap Store. Quase chegou lá, mas seria uma boa ideia apoiar Snap Store para “Linux” lembrando que OpenSUSE, Mint, ArchLinux, distros non-systemd, Silverblue, EndlessOS, ClearLinux e provavelmente mais algumas por aí não suportam oficialmente e algumas nem extra oficialmente? (vou desenvolver melhor este raciocínio de “qual plataforma suportar” mais para frente)

GNOME Boxes

Praticamente todos GNOME App’s suportam Flatpak / Flathub assim como todas distribuições.

Kooha

Mesmo estando em sua página do github, que não é o ideal para divulgar um app para usuários, não foi por isso que não deixou de simplificar a coisa!

Claro, que para isso tudo funcionar no Linux teríamos que ter, no mínimo, mais bom senso das distros e dev’s (isso as vezes parece mais difícil que financiar campanhas publicitárias milionárias rsrs).

Por exemplo o Ubuntu com aquela coisa que chamam de “Snap Store”, desenvolvedores não achando que todo usuário Linux sabe usar o terminal como administrador, ao mesmo tempo não ignorar as ferramentas gráficas para instalação de app’s.

Para quem já me conhece dos artigos deste site, já sabe da minha preferência por Flatpak’s e creio que seria mais interessante um apoio maior para Flatpak’s / Flathub como uma plataforma de app’s para o Deskotp Linux.

Por vários motivos, alguns falo aqui, mas principalmente porque acho que é a loja com maior potencial, além de hoje ser a loja mais popular entre as distribuições.

Pode ser questionado o fato de que o Flatpak não é uma ferramenta para distribuir todo tipo de software, por exemplo: drivers e app’s CLI.

Acredito que este como um problema a nível de sistema, deve ser resolvido pelo administrador do sistema, ou seja, quem mantém e desenvolve as distribuições Linux. Eles que precisam oferecer uma maneira integrada ao sistema para resolver este problema, pode ser em conjunto com o fabricante ou não. Podman é um bom candidato para resolver este problema de app’s CLI.

Um problema que pode surgir nessa questão de “deixar para o fabricando resolver” é que ela pode ser uma Nvidia da vida! A exemplo do driver Nvidia distribuído para Linux. É um binário que se deve instalar via TTY!

A solução de sistemas como o Fedora, por exemplo, foi integrar na GNOME Software. Outras distros como Ubuntu e PopOS já trazem o driver pré instalado. Outra solução para CLI app’s usado no Fedora e em algumas distribuições, é usufruir dos contêiner (Toolbox). Distrobox e a distro VanillaOS fazem um bom trabalho na integração destas ferramentas podman no desktop.

Tutoriais na internet

Este é outro ponto que poderíamos melhorar, como existe muitas DE’s / GUI’s no desktop Linux, os sites/blogs escolhem o caminho mais fácil para eles “tutorial via CLI”. Não que não possa mostrar o modo via CLI (ainda mais quando não se tem escolha) apenas não deixe como exclusividade nem como principal, se existe GUI para fazer algo, recomende ela primeiro, depois via terminal.

Mas qual GUI mostrar? eu diria a que se parecer mais com a original feita pelos desenvolvedores ou distro, no caso, tratar como “plataformas” exemplo:

“how to install on Ubuntu”

E evitar usar “Linux” generalizando tudo, a não ser que realmente seja da mesma forma em todas as distribuições Linux ou irá mostrar como se faz na maioria…

Vejo que em tutoriais de Android, geralmente é mostrado de uma forma que seria o mais próximo do Android puro ou em casos de Android’s muito modificados, sendo dedicados a este que é muito diferente.

Pode achar que a melhor GUI a se mostrar é a mais popular, mas nem sempre a mais popular é a melhor escolha. E isso é algo que um iniciante que se aventura no Desktop Linux já está aprendendo, a final, ele instalou Linux por algum motivo e com certeza não foi pela popularidade, certo?


Conclusão

Não acho que em outras plataformas isso é um “mar de rosas” também existe exemplos ruins para Windows/Mac, mas convenhamos, é muito menos frequente do que no Linux.

Meus pensamentos são estes. Incentivar app’s via lojas (embora alguns casos app’s estilo “standalone” podem ser válidos) e distros suportarem estas lojas por padrão, desenvolvedores não tratando usuários como outros desenvolvedores ou sysadmin, um bom senso no geral para facilitar e simplificar a distribuição de app’s seria, no mínimo, bom para os novos usuários e também para quem já usa alguma distro Linux!

Se você esperava uma solução bombástica e milagrosa, creio que já deve ter se decepcionado. Mas esta é a realidade, temos que arrumar a nossa casa para nós mesmos primeiro, depois pensar em convidar as visitas.

Se deseja me dar sugestões, mande para fastos2016@gmail.com ou nas redes sociais.

2 comentários em “Porque Linux não é muito usado no desktop?

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  1. Também concordo contigo. Eu já algum tempo (talvez pouco mais de 1 ano) instalo aplicativos mais pela interface gráfica do que via comandos no Fedora Workstation, que aliás, para mim esta sendo a melhor distro com app mais atuais e tudo podendo ser instalado via loja de aplicativos. Mais prático e acessível para um usuário leigo.

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